terça-feira, 8 de maio de 2012

Eu, um fascista

Eu sou um mimado, um egocêntrico e um narcisista. Enfim, um filhinho-da-mamãe. Admito. Envergonhado, mas admito. Ridicularizado, mijado, cuspido e humilhado. Mas admito. O que mais me frusta na vida é não controlar tudo. O que mais me frusta é não ser o Deus do velho Testamento, mostrando aos ditos escolhidos quem é que manda. "O bom da vida é viver ao sabor do vento". Eu tenho cara de hippie, por acaso? Não, não tenho. Eu sou um fascista. Eu quero ordem! E não tenho. Eu quero escravizar a História na minha lógica matemática em que dois mais dois serão sempre - SEMPRE - quatro. ax + b será sempre - SEMPRE! - igual a c. Eu não posso.
E nada frusta mais o meu fascismo que isso.

Eu não quero surpresas. Eu quero o tédio. A rotina. A máquina.

Eu amo a máquina. Eu amo a máquina.

Falar para aceitar que eu não posso controlar tudo é fácil. Especialmente, quando tudo conspira ao seu favor.

Eu passei a minha vida em uma prancheta, calculando o melhor momento de agir: menores riscos, maiores bônus, menos esforço, maiores possibilidades, noves fora: tcharãm! Eu venci.

Nunca deu certo.

Mas é só isso que eu sei fazer.

Essa a parte desesperadora.

sábado, 28 de novembro de 2009

"Aí esse Pregador aparece na minha porta, olhos vidrados e órgãos reprodutores limpinhos, me perguntando se penso em Deus. Digo a ele que matei Deus, cacei Deus com um cão raivoso, arranquei as pernas Dele com um aparador de grama, o estuprei com um sabugo de milho e joguei a carcaça num banho de ácido. Aí ele saca uma máquina de choque portátil e me diz que somente a Igreja Sérvia Oficial de Tesla pode salvar meu Campo Elétrico Polifásico Intrísseco, conhecido pelos não-engenheiros como "alma".
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Então eu bati nele. O que você teria feito?”

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(Warren Ellis - Transmetropolitan)
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[John Coltrane - Blue Train]

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A Cafeína e os Discos de Jazz.

Entre a cafeína e os discos de jazz, os velhos e os novos vícios. Algumas vidas repetindo as mesmas notas batidas e tentando me manter vivo. O velho sentimento sádico de quem mantem-se um curioso irremediável que sente a mórbida necessidade de assistir a própria amputação à serra elétrica.
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Ah, eu odeio todos vocês.
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Eu já bebi café demais nessa vida pra aguentar o tédio crônico que as suas picaretagens travestidas de palavras de ordem supostamente radicais que insistem em repetir os mesmos vícios da reação me causam. Eu ojerizo esta eterna alegria do coração da juventude. A criança interior foi sufocada a muito tempo pelo centro de correção para jovens infratores no qual eu me convertido. Eu sou a negação.
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Eu sou a respota dialética e diametralmente oposta ao que você chamam de amanhã. Eu sou o outro lado do que você chamam de alegria. Eu sou a monotonia que responde ao seu patético maracatu e cirandas e todo resto. Eu sou a cafeína e os discos de jazz. Os mesmos e únicos discos de jazz. Eu sou a repetição. Eu sou a História que se repete dia após dia. O eterno dejá vu. As notas se repetem e só percebe que ficou acordado tempo demais, como eu. Eu sou o tédio. Eu sou o tédio. O jazz não tem mais graça quando você olha pelo mesmo lado que eu.
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Repetição. Tédio. Repetição. Tédio.
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[John Coltrane - Moment's Notice]

sábado, 14 de novembro de 2009

domingo, 8 de novembro de 2009

Mais um Conto Sobre os Efeitos da Cafeína, Como Era Previsto.

Pode-se imaginar que todo este debate remuse-se a queimar viva a consciência de classe médio-cristã em benefício do barulho e da carnificina promovidos pelas canibais sem dentes que somos eu e meus quatro ou cinco amigos, todos viciados em café e sem o menor senso de humor.
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Bem, é isso aí!
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Tudo se resume a um péssimo humor, fruto de uma surra muito bem dada pela luta de classes, além, é claro, da nossa total ausência de estética e noção de arte ou moda.
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Pode-se chamar de vingança ou gente sem espírito esportivo. Tudo vai depender do lado do tabuleiro do qual você joga. Não é o seu time que está perdendo, seu imbecil!
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Só tem um jeito deste joguinho acabar, e como sempre, isto envolve quatro buracos na cabeça de alguém! O velho estilo da Marinha. Somos só eu e você no velho manequeísmo das arrenas romanas, transmitindo para 150 países através do pay-per-view.
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Morrer com mais de dez milhões de pessoas assistindo. Agora eu sei como o John Kennedy se sente!

[Black Flag - What Can You Believe?]

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Obra em Vermelho.

Esqueçam tudo o que eu escrevi até hoje. Tudo aquilo me envergonha pelo simples fato de ser meu. Vejam as minhas entranhas apodrecerem nas palavras que eu deixei cicatrizar. Feridas minhas dever infeccionar, necrosar e apodrecer por todo o sempre. Nojento, eu sei. Esqueçam tudo! É tudo infantilidade! Nada compara-se as palavras de hoje. Não há nada mais belo do que o sangue fresco que eu deixo impregnado neste papel. Nada é mais belo que meu vício. Seja em café ou qualquer outra coisa. Imagino um taco de beisebol. Depois me imagino espancando um sem-número de imbecis. Posso ouvir seus ossos quebrando em um outro sem-número de minúsculos pedacinhos. Vejo as fraturas expostas. Imagino-me partindo-os. Fresco. Agora, imagino bailarinas canibais. Sim, minha obra-prima em vermelho. Vejo as bailarinas devorarem o esnobe público trajados de Armani e planos de saúde. Imagino aquelas tripas bem alimentadas alimentando-as. Talvez sejam minhas próprias tripas. Tantas vezes já me percebi morrendo, um nova vez não seria surpresa. Vejo napalm entre meus dentes, queimando o vilarejo de heresia que é a minha boca. Me vejo parte do meu canto dos cisne, condenando-me a morrer em minha obra. Nenhuma novidade. Acaba o disco, as canções antes violentas tornam-se dançantes. Eu odeio dançar! Sigo violento. Sinto toda a cafeína do Universo correr em minhas veias num ritmo frenético. Meu sistema circulatório é rasgado como carne em navalha, jogando rios de adrenalina e doença e vícios nos meus músculos. Eu sou a vítima da minha própria maldição. O cordeiro a ser sacrificado em nome de um deus claramente carnívoro. É uma questão de sobrevivência, um dos dois tem que morrer e esse universo não cabe os dois. Imagino universitários de centro-esquerda sendo dilacerados em meio a uma chuva de cutelos que ira limpar a minha vista desta praga semi-beatnik. Eles são gordos, saudáveis e de classe média; merecem sua sentença. Imagino-os sendo fatiados ao meio igual a presunto. Vejo os lados simétricos daqueles ex-futuros colunistas da Carta Capital esaziarem-se de sangue, órgãos e amanhãs. O mundo é pequeno demais para todos nós, até mesmo pra mim quem sabe. Pego-me sonolento, dolorido e suando, como se tenta-se dormir no meio de uma sessão de tortura. Vejo-me o velho sádico de sempre, pagando caro pelas suas perversões, alimentando e afagando a lâmina sobre o meu pescoço. Essa é minha obra-prima: a que não vale um tostão! A única que se faz vida! A minha obra-prima! Minha!

[Crime - Rockabilly Drugstore]

A little bird lit down on Henry Lee.



Nick Cave & The Bad Seeds (feat. PJ Harvey) - Henry Lee


Get down, get down, little Henry Lee
And stay all night with me
You won't find a girl in this damn world
That will compare with me
And the wind did howl and the wind did blow

La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee

I can't get down and I won't get down
And stay all night with thee
For the girl I have in that merry green land
I love far better than thee
And the wind did howl and the wind did blow

La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee

She leaned herself against a fence
Just for a kiss or two
And with a little pen-knife held in her hand
She plugged him through and through
And the wind did roar and the wind did moan

La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee

Come take him by his lilly-white hands
Come take him by his feet
And throw him in the deep deep well
Which is more than one hundred feet
And the wind did howl and the wind did blow

La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee

Lie there, lie there, little Henry Lee
Till the flesh drops from your bones
For the girl you have in that merry green land
Can wait forever for you to come home
And the wind did howl and the wind did moan

La la la la la
La la la la lee
A little bird lit down on Henry Lee

'Murder Ballads' foi um dos discos mais importantes da minha adolescência.